SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA
Na primeira leitura, o relato de Gn 2,4b-3,24 descreve sobre as origens da vida e do pecado.
Gn, 1,11: não trata de fatos históricos constatáveis, mas de uma reflexão poética e simbólica sobre o lugar do ser humano no planeta e a origem do mal, à luz da fé, utilizando elementos literários do seu contexto cultural.
Gn 2: Apresenta, de forma simbólica, o sonho de Deus para a humanidade. Se ela tivesse acolhido a oferta do Deus criador e salvador, tudo seria diferente: haveria harmonia entre os seres humanos, sintonia com Deus, respeito e relação tranquila com o ecossistema, nascimento e morte sem trauma;
Gn 3: narra sobre a raiz do pecado do mundo: o ser humano, que cede ao desejo da autossuficiência. A soberba leva-o a considerar-se igual a Deus, negando sua condição de criatura. A expressão “conhecedores do bem e do mal” (Gn 3,5) traduz o desejo equivocado de plena autonomia, a pretensão de ultrapassar os limites de criatura e querer ser como Deus.
O pecador percebe-se nu e tenta se esconder de Deus (Gn 3,7-8). A nudez aqui não tem conotação sexual. Significa que quando alguém se afasta de Deus torna-se indigente, desamparado e impotente.Gn 3,11 mostra como a atitude de romper a sintonia com Deus e de se negar a dialogar com ele, leva à destruição das relações humanas, das relação com o mundo e com Deus.
Na segunda leitura a carta aos Filipenses traz um hino de ação de graças que começa por “bendizer” a Deus, fonte última de todas as graças concedidas aos seres humanos.Deus cumulou-nos das suas bênçãos (vers. 3-6). Ele elegeu-nos desde sempre (“antes da criação do mundo”). Para sermos “santos e irrepreensíveis”.
Mas, além de nos eleger, o Pai predestinou-nos “para sermos seus filhos adotivos”. Essa adoção torna-nos participantes da própria natureza de Deus. Tanto a “eleição” como a “adoção como filhos” resultam do imenso amor de Deus pelos seres humanos, um amor que é gratuito, incondicional e radical. Foi através de Cristo que os dons de Deus incarnaram na história dos homens e nos foram oferecidoscom a sua vida e com a sua entrega, mostrou-nos o amor que o Pai nos tem e deu-nos a conhecer o “mistério” da sua vontade.
O conceito paulino de “mistério” designa o projeto salvador de Deus, oculto durante muitos séculos, mas revelado aos homens na vida, nas palavras e nos gestos de Jesus Cristo.
O objetivo final do projeto de Deus é “instaurar todas as coisas em Cristo, tudo o que há nos céus e na terra”, de modo que, na plenitude dos tempos, Cristo seja o centro para o qual tudo converge e à volta do qual tudo se articula, em total harmonia.
O relato da anunciação, do Evangelho de Lc 1,26-38 assemelha-se a outras senas de anúncio na Bíblia:
– Abraão (Gn 17,19-21); À mãe de Sansão (Jz 13,1-6); Anúncio do nascimento de João Batista (Lc 1,5-20).
A estrutura destes textos é sempre a mesma|: Deus toma a iniciativa: anuncia que virá criança importante para contribuir no processo de libertação e salvação do povo: pessoa questiona e Deus lhes oferece um sinal.
O anuncio à Maria tem algo original: aparece o nascimento de Jesus e a vocação de Maria, a sua resposta generosa.O Enviado diz: alegra-te! – A saudação convoca Maria a se alegrar porque a salvação chegou para todo o povo. Ela está envolvida, enriquecida e recriada em gratuidade. Maria é a manifestação ininterrupta do favor de Deus – Maria é o maior “depósito de graça” da humanidade e espalha com fartura os dons Divinos a seus filhos amados.
Maria, a agraciada: Deus se fixou amorosamente em Maria a expressão fala mais da gratuidade de Deus do que das qualidades dela. Maria recebe a graça de Deus como puro dom a ela concedido e se torna “templo do Espírito”.
Maria não é semideusa, cheia dos poderes do Altíssimo. A graça que é de Deus mesmo se autocomunicando acontece na vida de Maria como “dom, acolhida e crescimento”.
A expressão “O Senhor está contigo” (1,28) significa que a promessa de que Deus irá ajudá-la a realizar uma grande obra que Ele solicita. Maria desempenha papel ativo e insubstituível na história de seu povo.
As palavras do anjo: “O poder do Altíssimo te cobrirá” – interpretação cristológica evoca a nuvem que aparece na transfiguração (Lc 9,34 s ) e o Espírito que vem sobre Jesus por ocasião do batismo. Ambos os momentos revelam a pessoa de Jesus numa relação ímpar com Pai.
Maria responde: “como acontecerá isso, se não conheço homem?” (v.34). A expressão “conhecer” – ter um relacionamento sexual íntimo com alguém/ Assim o texto afirma a origem divina de Jesus.
Diante da proposta de Deus, Maria responde prontamente: o seu sim ecoa forte e sem dúvida, cheio de generosidade. Maria une a liberdade com a vontade: Eis aqui a servidora do Senhor, eu quero que se faça em mim segundo a tua palavra (Lc 1,37).Essa entrega do coração a Deus tem um nome: fé! Mais tarde, Isabel lhe diz: Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do senhor será cumprido (Lc 1,45).
Maria escutou a Palavra, acolheu-a no coração, abriu espaço interior, deixou Deus entrar. Saiu de si e investiu a sua vida num grande projeto, a que se sentiu chamada. Lucas nos apresenta Maria como a primeira discípula cristã. Com a anunciação, ela inicia um longo caminho de peregrinação na fé, ao responder ao apelo de Deus.
A fé cristã, desde cedo olhou para Nossa Senhora como exemplo de fé. Ela nos ensina a ser verdadeiros discípulas e discípulas de Jesus, doando-nos e fazendo a sua vontade!
Nossa Senhora, Imaculada. Rogai por nós!
Ir. Valdete Guimarães, SMR