Notícias

15 out

Relatos de Amor e Serviço

Painel Comemorativo dos 100 anos da presença das

Irmãs Servas de Maria Reparadoras, no Brasil.

Servas de Maria Reparadoras: uma inspiração que nasce da contemplação do Amor, na cena de Maria aos pés da Cruz, com Jesus nos braços. Espiritualidade cultivada a partir do seguimento de Jesus, na sua expressão mais forte e paradoxal: Deus, Criador de todas as coisas, “reduzido”, “esvaziado por si mesmo”(Filipenses 2,6-11)da sua condição divina a um corpo frágil e débil, necessitado e aparentemente derrotado. Assim, Ele revela que o seu poder não é o poder dominador e da força, mas o poder misterioso do Amor que, por ser Amor, é capaz de se fazer tão pequeno e frágil, justamente porque este poder de amar não tem limites. Como em Êxodo 3,7, Deus ouve o clamor dos pequenos, desce, nos alcança, nos redimensiona, nos ergue da condição de escravos, nos transforma e liberta…

Como ponto de partida de inspiração para toda a obra, optei por uma releitura de uma obra clássica, de Maria aos pés da cruz e de Jesus, encarnando em nossa história de Brasil, a partir das nossas raízes indígena e africana.

Inspiradas neste gesto tão forte e profundo, as irmãs assumem sua missão de abraçar toda a criação ainda ferida e humilhada. Nesta releitura de uma “pietà” clássica, Maria assume traços de mulheres indígenas, na sua riqueza de adorno e beleza, acenando para a situação dramática em que vivem nossos povos indígenas originários.  O Filho consolado nos braços da Mãe nos remete à situação de tantos jovens negros e pobres, cujas vidas são ceifadas por estruturas ainda muito carentes de amor e justiça. Ela o acolhe em seus braços com a ternura de quem só consegue dar amor. Não há lugar para vingança, nem ódio. A violência em si mesma é um grito por amor, pois é fruto de sua ausência. A mulher, Maria de Nazaré, como tantas Marias, segura nos braços o jovem Cristo, revivido em tantas situações nos dias de hoje, como Deus acolhe o Verbo que se encarnou, foi fiel ao seu amor até às últimas consequências e retorna para os seus braços maternos.

O desafio de reparar a dor e fazer gerar dela, o amor, continua a se perpetuar através daquelas e daqueles que, a exemplo de Maria e de seu Filho Jesus, deixam suas terras e se encarnam na vida dos mais pobres e sofredores, num espírito de sororidade que repara as raízes provocadoras de dor e sofrimento, em vida e dignidade. A Cruz, a cena forte de Maria com Jesus no colo, simboliza os desafios de curar feridas, enxugar lágrimas e restituir a dignidade que nos foi dada de herança como filhas e filhos de Deus (Rm 8,17).

Um caminho sinuoso sobre a grande imagem vai nos conduzindo desde a parte inferior esquerda, na Itália, com algumas cenas da fundação, até a parte superior direita, onde a diversidade de gerações lançam sementes que darão seus frutos no futuro.

Começando da parte inferior esquerda, temos um marco com uma cruz iluminada, pascal, na cidade de Vidor, Itália, berço onde tudo começou,o chão onde essas primeiras mulheres, em comunidade e com a fundadora, Madre Elisa Andreoli e sua mãe, deram seus primeiros passos.

Junto aos pés de Jesus, estão as cinco irmãs e a postulante, missionárias que aceitaram o chamado e partiram em missão para o Brasil: “Ide pelo mundo inteiro e proclamai o Evangelho a todas as criaturas” (Bento XV, 1919). Ao longo do caminho, aparecem imagens da primeira residência das irmãs em Sena Madureira, escolas, hospitais e missões.

As imagens que foram figuradas no painel pretendem ilustrar, de forma simbólica, todas as obras e ações das irmãs, que atenderam a tantos clamores, em destaque para educação, saúde e catequese. Obras que serão semeadas no Brasil e em outros países da América Latina, como Argentina, Peru, Bolívia e México. São imagens que, mais do que falar de si, são sacramentais de inúmeras obras e gestos, de pessoas que se doaram pessoalmente e comunitariamente, para que o Amor Reparador pudesse ser este elemento revolucionário de transformação da realidade: ser solidárias na dor, dor da humanidade fragilizada de diferentes formas, mas firmes na esperança de ver mulheres e homens livres de todo tipo de opressão e injustiça, da violência e medo (Mt 14,22-33).

Um livro em destaque é reconhecimento pela grande contribuição das irmãs na área da educação. Em torno dele,três jovens dialogam e partilham seus conhecimentos, apontando para a importância da educação e do seu papel libertador, de formação das pessoas em sociedade e seus valores.

No centro, no “coração” de Maria, uma comunidade está reunida em torno da mesa da Palavra e da Partilha, destacando a importância de uma formação comunitária e participativa, e de uma espiritualidade bíblica, afetiva e encantadora.

Continuando o caminho da história, a presença das irmãs, de diferentes etnias e maneiras de ser presença, vai tecendo, ao longo destes cem anos, relações de amor, solidariedade e serviço, sobretudo junto aos mais pobres e marginalizados, onde o tecido social está rasgado e ferido, justamente onde a reparação se faz urgente.

Após tantos anos de trabalho, os frutos já são colhidos e são visíveis na alegria das crianças que dançam, brincam, sinais da utopia do Reino de Jesus no “já” da história, antevendo uma sociedade construída nos pilares da fraternidade, do amor-serviço-solidário e da justiça, onde haja igualdade de direitos, respeito às diferenças, vida em abundância, cuidado e dignidade para com toda a criação.

Duas figuras de jovens se destacam pela alegria e pelo movimento, com suas roupas que se misturam com flores e apontam para frente. As linhas que formam a jovem cheia de alegria e vida, com seus vestidos de flores ao lado do menino, tem sua origem no corpo do jovem caído. A vida que vence a morte, a esperança que vence a tristeza e a indiferença.

Mais no alto, duas irmãs lançam sementes, no reconhecimento e respeito às gerações que nos antecederam, simbolizando a responsabilidade em plantar hoje, para que outros possam colher um mundo futuro melhor e mais saudável.

Toda ação de amor e de coragem, de sabedoria e fortaleza, vem do Espírito que nos foi deixado por Jesus em Pentecostes. Essa força que anima e protege, esta espiritualidade que alimenta, se renova e se atualiza em cada tempo e lugar, é a presença do Espírito Santo, simbolizado pelo grande pássaro, com suas asas abertas que se misturam às cenas da realidade, como que as envolvendo, perpassando e animando. As três imagens, do Espírito, da Mulher e do Filho, nos remetem ao modelo da melhor comunidade, a Trindade Santa.

 

Juiz de Fora, 26 de fevereiro de 2019

 

Anderson Augusto S. Pereira

Publicações

Deixe um Comentário