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12 dez

Reflexão sobre a Liturgia do 3º Domingo do Advento

 

A primeira leitura tirada do livro de Sofonias (Sf 3,14-18ª) mostra que o profeta denunciou o imenso pecado de Judá. Atacou a idolatria cultual, as injustiças, o materialismo e os abusos da autoridade. Disse claramente que esta situação não continuasse e que, chegaria o dia do castigo ou do Juízo de Deus (cf. Sf 1,2-2,3).

Mas, o grande objetivo da pregação de Sofonias não era anunciar o castigo de Judá; mas era levar o Povo à conversão.

Sofonias achava que o Povo de Judá não podia invocar a Aliança e, simultaneamente, prestar culto a deuses estrangeiros, desrespeitar os direitos dos pobres, cultivar a exploração e a injustiça.

O que Sofonias pedia é que Judá se convertesse, que o Povo deixasse o caminho de infidelidade que estava seguindo e regressasse ao encontro de Deus. 

Em nome de Deus, Sofonias dirige a Jerusalém e aos seus habitantes uma consoladora palavra de esperança:

Judá já não precisa temer os inimigos, pois Deus lá está para o defender, como poderoso salvador. A tristeza que os paralisa deve ser mudada em alegria, os lamentos que se ouvem em todos os cantos da cidade devem dar lugar a gritos de júbilo, pois o povo, protegido pelo amor de Deus, reencontrou a paz, a segurança, a felicidade e a alegria.

Na leitura de Filipenses (Fl 4,4-7) sobressai o convite à alegria, repetido com insistência: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Novamente vos digo: alegrai-vos” (vers. 4).

O vocábulo aqui usado por Paulo nos remete aquela alegria que “ilumina” a noite do nascimento de Jesus, quando os anjos comunicaram aos pastores de Belém essa “boa notícia” (cf. Lc 2,10-11).

É uma alegria que resulta da presença salvadora de Jesus no meio da humanidade. Conscientes dessa presença, os membros da comunidade cristã devem viver na alegria e irradiar uma alegria que transforma a noite do mundo numa aurora de esperança.

Paulo deixa, ainda, outras recomendações aos filipenses: que deem testemunho da bondade que aprenderam com Jesus (vers. 5);  que confiem no amor de Deus e que não vivam sobressaltados e inquietos (vers. 6a), distraídos pelas coisas do mundo e pelos valores efêmeros; que cultivem a intimidade e o diálogo com Deus, apresentando-lhe as dificuldades que encontram no caminho e agradecendo-lhe constantemente os seus dons e o seu amor (vers. 6b).

Por cima dessa existência serena e comprometida deve pairar sempre a certeza de que o Senhor vem (“o Senhor está próximo” – vers. 5).

O Evangelho de Lucas (Lc 3,10-18) nos mostra que a mudança de vida que João Batista propunha a todos os que o procuravam na margem do rio Jordão, devia traduzir-se numa efetiva mudança de atitudes. A conversão tem de manifestar-se em gestos. Por isso, João dizia-lhes: “Produzi frutos de sincera conversão” (Lc 3,8).

O texto mostra que as pessoas pediam orientações a João sobre o que deveriam fazer: (vers. 10.12.14). Na sua resposta, João não pede gestos piedosos ou práticas religiosas especiais; mas propõe coisas muito concretas, que apontam no sentido de uma vida mais humana, mais justa e mais fraterna.

Quando o povo pergunta o que devemos fazer? João fala de “repartir” (“quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma; e quem tiver mantimentos faça o mesmo” – vers. 10).

 Não significa dar o supérfluo ou as sobras, mas sim partilhar com o próximo, o pouco ou o muito que se tem. Faz-nos tomar consciência de que os bens são dons de Deus postos à nossa disposição, mas que se destinam a todos. “Repartir” significa a passagem da economia da posse para a economia do dom.

Quando os publicanos também perguntam o que devem fazer? João propõe que não se aproveitem da sua situação para explorar os seus irmãos (“não exijais nada além do que vos foi prescrito” – vers. 12). Encarregados de recolher os impostos, os publicanos extorquiam às pessoas quantias superiores àquilo que estava estipulado; e a diferença redundava em seu benefício.

O enriquecimento por meios ilícitos e imorais, a exploração dos pobres, as falcatruas econômicas são crimes que destroem o tecido social e que Deus não pode ignorar.

Aos soldados que indagam, também eles, sobre o que deveriam fazer? João pede que não usem de violência e que não abusem da sua força para cometer injustiças (“não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo” – vers. 14).

A violência, o abuso do poder e a prepotência desumanizam o mundo, subvertem gravemente o projeto de Deus para o mundo e para os homens e trazem aos mais frágeis um sofrimento intolerável.

Notemos que os “frutos de conversão” que João pede sempre se referem a comportamentos e atitudes para com o próximo.

A melhor forma de prepararmos o mundo para a chegada de Deus é construirmos uma sociedade mais justa, mais solidária, mais fraterna.

João Batista acreditava que, quando ele próprio saísse de cena, iria chegar uma outra figura, enviada por Deus, para concretizar a intervenção final de Deus na história.

 João se referia a Jesus, simplesmente, como “o mais forte do que eu”; e dizia de si próprio que não era digno de lhe “desatar as correias das sandálias” (vers. 16). “Desatar a correia das sandálias” era uma tarefa própria de escravos. A expressão traduz a consideração de João por aquele que há de vir e que é “o mais forte”, aquele que Deus iria encarregar de uma tarefa singular na história da salvação.

Ele seria o mediador definitivo, encarregado de concluir o processo que João apenas tinha começado.

À luz da Palavra acolhamos o Senhor que vem!

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