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06 dez

Reflexão sobre A liturgia da Palavra do Segundo Domingo do Tempo do Advento

 

Na primeira Leitura, o profeta dirige a sua atenção para Jerusalém, a cidade mártir deixada em ruínas pelos exércitos de Nabucodonosor, em 586 a.C.; anuncia a restauração definitiva e o regresso do cativeiro dos seus habitantes.

As imagens utilizadas para falar de Jerusalém são expressivas.A cidade arruinada era como uma viúva triste, vestida de luto,despojada de todos os enfeites que a tornaram bela. Os seus filhos tinham-lhe sido arrancados dos braços e levados cativos para uma terra estrangeira.

Mas, eis que depois de muitos anos, um profeta interpela a cidade e anuncia-lhe que o seu tempo de luto terminou. Convida-a a tirar as vestes de luto e a revestir-se novamente dos adornos que a tornaram bela.

 Aquela viúva vestida de luto vai tornar-se novamente uma mulher cheia de encanto, enfeitada com as suas joias (vers. 1-3).

Deus convida Jerusalém a olhar para oriente, na direção em que partiram os seus filhos levados cativos pelos babilónios.

Eles foram reunidos por Deus e serão levados de volta à Jerusalém, numa marcha triunfal, como se fosse a marcha de um cortejo real (vers. 5-6).

Deus vai rebaixar os altos montes e elevar os vales, a fim de que os filhos de Jerusalém possam caminhar facilmente, num regresso feliz à sua terra e aos braços da sua mãe (vers. 7).

Os bosques darão sombra aos caminhantes e as árvores aromáticas encherão os caminhos de perfumes (vers. 8).O próprio Deus caminhará à frente dos exilados, indicando-lhes o caminho e tratando-os com justiça e misericórdia (vers. 9). Jerusalém, que reencontrou a alegria e a felicidade, será uma cidade totalmente renova. Por isso, será designada por nomes novos: “Paz da justiça e glória da piedade” (vers. 4).

Nos seus tribunais tomar-se-ão decisões justas, que criarão um clima de harmonia e de paz; e os habitantes da cidade viverão na fidelidade ao Senhor, envoltos pelo seu esplendor.

Na segunda leitura, Paulo afirma aos Filipenses que nunca esquece deles em suas orações. (vers. 4). Sente-se alegre quando lembra da acolhida feita por eles, como abraçaram o Evangelho e como se comprometeram com o seguimento de Jesus.

Ainda agora, prisioneiro por causa do Evangelho, Paulo recebeu na prisão a ajuda económica que os Filipenses lhe enviaram; e isso mostra como os filipenses continuam generosos, dedicados e solidários, dando um testemunho coerente dos valores (vers. 5).

Tudo isso é obra de Deus; e Paulo confia que Deus continuará cuidando deles vers. 6).

Paulo sente uma grande ternurapor esta comunidade atenta às necessidades dos evangelizadores, solidária com todos os que dão a sua vida à causa do Evangelho, dedicada inteiramente à obra de Deus (vers. 8).

Mas o caminho do seguimento é constante e, por isso Paulo continuará a pedir a Deus que faça a caridade dos filipenses crescer cada vez mais (vers. 9);

 continuará a pedir a Deus que os filipenses saibam distinguir a cada passo aquilo que é melhor, aquilo que os torna mais puros e mais santos (vers. 10).

 É nesse esforço de compromisso, de fidelidade e de caridade, que a comunidade dos santos espera o Senhor que vem (vers. 11). 

O texto do Evangelho é de Lucas ecomeça com uma referência a diversos personagens que tinham um lugar na política, sociedade e religião da época.Mas, aPalavra de Deus que prepara o encontro decisivo entre Deus e a humanidade dirige-se a um homem desconhecido e sem influência, que não vive num palácio de poder e abundância, mas vive no deserto desolado e esquecido.

Esse homem chama-se, simplesmente, João e não tem qualquer papel de relevo na sociedade da época. É assim que Deus age: na simplicidade, sem se impor nem dar nas vistas.

Quem é esse João, chamado “o batista”? É o filho do sacerdote Zacarias e de Isabel, parente de Maria, referidos no Evangelho da Infância de Jesus (cf. Lc 1,5-25; 39-80).

Apesar de pertencer a uma família sacerdotal, João não exerce funções sacerdotais.Aparentemente tinha rompido com o templo, com a sua liturgia e os seus rituais de purificação inúteis, e tinha-se retirado para o deserto, longe das intrigas dos palácios dos poderosos e do ruído caótico dos átrios sagrados onde diariamente se exibiam os sacerdotes e os doutores da Lei.

Foi, portanto, no deserto, que a Palavra de Deus foi dirigida a João (vers. 2); e foi no deserto que João começou a fazer ouvir a sua voz profética.

O deserto, embora fosse um lugar desabitado, afastado da agitação e da confusão das cidades, era um local por onde passava muita gente, pois estava ao lado da estrada que ligava Jerusalém com as regiões situadas ao oriente do rio Jordão.

Esse lugar situava-se ao lado da “porta” por onde os hebreus, vindos do Egito, tinham entrado na Terra Prometida (cf. Js 4,13-19): sugeria, por isso, a passagem da escravidão para a liberdade, a “passagem” da “vida antiga” para uma “vida nova”.

João Estava consciente de que a comunidade do Povo de Deus atravessava uma crise profunda; e tinha consciência de que essa crise resultava do abandono de Deus.

Comodamente instalado nas suas seguranças e nos seus rituais religiosos cheios de pompa, Israel tinha-se afastado de Deus.

O próprio templo tinha-se tornado um lugar iníquo, onde se praticava um culto estéril, que não aproximava o Povo do seu Deus.

João acreditava na iminência de uma intervenção decisiva de Deus, que poria fim a essa história de pecado.

Acreditava também que a forma mais adequada de preparar a chegada iminente de Deus seria através de uma conversão radical, de um regresso incondicional a Deus.

João começa, então, a percorrer “toda a região do Jordão”, a pregar “um batismo de conversão

O Evangelho de hoje conclui-se com uma citação tomada do Deutero-Isaías (cf. Is 40,3-5), onde anuncia aos exilados na Babilónia a intervenção libertadora de Deus, o regresso a casa dos exilados, o “milagre” de um novo Êxodo da terra da escravidão para a terra da liberdade.

Com essa citação, Lucas sugere que a voz de João, escutada no deserto de Judá, protagoniza um anúncio semelhante: aproxima-se o momento da intervenção salvadora de Deus e o Povo de Deus tem de preparar-se.

Deverá endireitar as veredas estreitas, altear os vales cavados, abater os montes e as colinas que tiram o fôlego aos caminhantes e os impedem de contemplar horizontes mais largos…

 

Ir. Valdete Guimarães, SMR

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