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20 dez

Reflexão da Liturgia do Quarto Domingo do Advento

 

A primeira leitura da liturgia desse quarto domingo do advento mostra o profeta Miqueias afirmando que Deus vai suscitar um novo rei para Judá, um rei que será muito diferente daqueles que têm regido os destinos do Povo. Esse rei não nascerá em Jerusalém, no palácio real, onde a vida decorre no meio de intrigas, ambições, corrupções e jogos de poder. Mas virá da pequena aldeia de Belém-Efrata de onde outrora veio o rei David. Será um rei que retomará as origens humildes de David, o pastor de rebanhos que Deus escolheu para presidir aos destinos do seu Povo (vers. 1).  Não cultivará o orgulho e a ambição, nem estará dominado pela consciência da sua grandeza e da sua importância; mas receberá de Deus, com toda a humildade, o poder para cuidar do rebanho.

Sob a autoridade desse rei, Judá viverá em paz e segurança: “ele será a paz” (vers. 5a). A palavra “shalom”, aqui utilizada, refere-se à ausência de violência e de conflito e também ao bem-estar, à abundância de vida, à harmonia, à felicidade plena. Será essa a obra do rei humilde e bom que Deus vai suscitar para o seu Povo.

A segunda leitura, da Carta aos Hebreus, mostra que a vida de Jesus é o verdadeiro sacrífico oferecido uma vez por todas a Deus. No AT, quando a pessoa queria manifestar a sua entrega a Deus, ou obter o perdão dos seus pecados, oferecia um animal em sacrifício. Existiam os sacrifícios de holocaustos; Lv 3,1-17; 7,11-21: de comunhão; Lv 4,1-35; 7,1-10:  e de expiação pelo pecado.

Todos os anos, no grande dia da Expiação (o “YomKipur”), o sumo-sacerdote realizava diversos rituais expiatórios pelos seus pecados e pelos pecados de todo o povo (cf. Lv 16,1-34). No entanto, os profetas já tinham criticado a inutilidade de todos esses sacrifícios. Os rituais sacrificiais sangrentos praticados no templo de Jerusalém não agradavam a Deus. Eram rituais puramente externos que não mudavam o coração e o comportamento das pessoas.

Jesus, o sumo-sacerdote da nova Aliança, dispõe-se a oferecer a Deus um sacrifício diferente.

O autor da Carta aos Hebreus põe na boca de Jesus as palavras de um salmista (cf. Sl 40,7-8) que está consciente de que Deus pretende um outro tipo de sacrifício: “Não quiseste sacrifício nem oblações, mas formaste-Me um corpo. Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado. Então eu disse: ‘Eis-Me aqui’” (vers. 5-9).

Jesus mostra que o melhor sacrifício que cada pessoa pode oferecer é o sacrifício da sua própria vida, a obediência à vontade de Deus, a humilde aceitação dos projetos de Deus, a entrega a Deus da totalidade da sua existência.

Antes da cena que nos descreve o Evangelho deste domingo, Lucas tinha narrado a visita do anjo Gabriel à Maria e o anúncio de que ela seria a mãe de Jesus, o “Filho do Altíssimo”. O anjo tinha também tinha falado à Maria que a sua parente Isabel estava no sexto mês de gravidez e iria dar à luz uma criança (cf. Lc 1,26-38).

Hoje, o Evangelho de Lucas narra Maria deixando Nazaré e dirigindo-se “apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá” (Lc 1,39). O seu objetivo é ir ao encontro de Isabel.

Maria “entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel” (vers. 40). “Shalom” é a saudação habitual hebraica (“paz”). Maria entrou em casa de Zacarias desejando e levando a paz. Isabel, ao acolher a saudação de Maria, sente que o filho que traz no seu ventre “exultou” (vers. 41). É a reação de alegria de quem se encontra com o Messias, aquele que traz a paz.

O filho de Isabel (que terá como missão preparar os homens e as mulheres para a chegada do Senhor) reconhece no filho de Maria o Messias que vai nascer e que vai oferecer a Israel os dons de Deus. A presença de Jesus provoca a alegria do Israel fiel que espera a concretização das promessas de Deus e que vê na chegada de Jesus a proximidade desse mundo de justiça, de paz e de felicidade anunciado pelos profetas.

Isabel chama Maria de “bem-aventurada, porque ela acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor” (vers. 45). Ela é bem-aventurada porque escutou a Palavra de Deus, acreditou e dispôs-se a colaborar no seu plano salvador. A forma como ela escutou e acolheu a Palavra de Deus, tornam-na modelo de fé para todos os discípulos e discípulas de seu filho.

Na casa de Zacarias encontram-se duas mulheres que são “parentes”, são da mesma família: Isabel e Maria, o Antigo e o Novo Testamento, o Israel da antiga Aliança e o Povo da nova Aliança. Isabel e seu filho no ventre representam a comunidade veterotestamentária, grávida de esperança, que aguarda a realização das promessas feitas por Deus através dos profetas. Maria e o filho em seu ventre representam o cumprimento dessas promessas, a nova realidade nascida a partir da visita de Deus ao mundo.

O Israel fiel, representado em Isabel, reconhece no filho que Maria traz consigo o “Kyrios”, o Senhor, o Deus que vem ao encontro do seu Povo para concretizar as suas promessas e para instaurar uma nova era de vida e de paz sem fim.

 

Ir. Valdete Guimarães, SMR

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