Justiça Restaurativa
Nos dias 05 e 06 de novembro de 2018, Irmã Tereza M. Lacerda, SMR, participou da Conferência sobre Justiça Restaurativa, realizada na Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, (EMERJ) com a conferencista Kay Planis, canadense, e a tradutora Fátima De Bastiani, gaúcha. Eis, portanto uma pequena síntese descritiva da senhora Fátima:
Conheci a Justiça Restaurativa em 2010 e, a partir desse encontro, senti que minha busca por um caminho mais justo e mais amoroso em nossas interações havia alcançado um novo patamar.
Vejo a Justiça Restaurativa como uma filosofia de vida que nos propõe uma nova maneira de estarmos junto com as pessoas, tanto com aquelas que compartilham de nossas opiniões sobre o que consideramos essencial para conviver bem em comunidade, como com as pessoas que discordam de nós – numa acolhida respeitosa aos pontos de vista diferentes.
Acolhimento, respeito, horizontalidade, responsabilidade, interconexão, empatia…
Há diferentes práticas restaurativas para vivenciarmos esses valores, dentre elas os Círculos de Construção de Paz, metodologia que me conquistou pela aparente simplicidade e pela conexão profunda com os valores e princípios da Justiça Restaurativa. Mais do que isso, porque abre um leque de possibilidades de aplicação para conhecer-se melhor, criar o senso de comunidade, dialogar de forma respeitosa, criar uma comunidade de apoio na superação de dificuldades, transformar conflitos buscando com todos os envolvidos direta e indiretamente uma solução para que as coisas fiquem melhores e criando as condições para que não se repitam.
O Círculo de Construção de Paz tem suas raízes na visão de mundo dos povos indígenas da América do Norte. Não é uma novidade. É uma prática originada nos encontros dos povos indígenas em torno de uma fogueira, quando utilizavam o bastão da fala, que era passado de mão em mão sequencialmente. Quem estiver segurando o bastão da fala tem a oportunidade de falar sem ser interrompido enquanto todos os outros participantes têm a oportunidade de escutar sem que sejam interrompidos.
A metodologia oferece um potencial extremamente positivo de aplicação nos contextos escolares. A escola é uma comunidade onde se encontram crianças, jovens e adultos que muitas vezes entram em pequenos conflitos e, por não saberem outra forma de buscar soluções, acabam por transformar esse conflito em um problema que toma proporções gigantescas. Castigos, suspensões, transferências acabam acontecendo e deixando o ambiente escolar mais inseguro.
O ideal de implementação dos Círculos de Construção de Paz nas escolas é tornar um hábito reunir-se em círculo para conhecer-se melhor, vivenciando a experiência de falar e de escutar respeitosamente, sentindo que o que cada um tem para dizer é importante, que se tem a escolha de falar ou de só escutar, sempre trazendo a ideia dos valores compartilhados. É uma experiência de poder pessoal positivo que acabará por criar um ambiente de mais respeito, empatia e solidariedade e que já os prepara para lidar com situações de conflito quando surgirem.
Já temos experiências extremamente positivas de aplicação dos Círculos de Paz em escolas no Brasil com depoimentos a respeito do impacto positivo que a implementação das ideias e princípios da Justiça Restaurativa com a prática circular trouxe ao ambiente escolar.
Quando buscamos criar uma cultura de Paz, a metodologia dos círculos se encaixa de maneira natural e produz resultados duradouros com reverberação nas famílias e na comunidade. O bem que isso traz é imensurável!
Fátima De Bastiani
Facilitadora, instrutora de Justiça Restaurativa e Círculos de Construção de Paz
Tradutora dos artigos e manuais escritos por Kay Pranis e em co-autoria com Carolyn Boyes-Watson